segunda-feira, 22 de maio de 2017

Marinha sem marinheiros?



Parece história de fantasmas. Um enorme cargueiro navegando pelos mares, sem um comandante ou tripulação à bordo. Mas se for concretizado o que se planeja, esta parece ser a realidade no futuro.

A empresa norueguesa de tecnologia marítima Kongsberg Gruppen fez parceria com a gigante da área de fertilizantes Yara ASA e anunciou os planos para construir o que seria o primeiro navio porta-containers do mundo totalmente autônomo, sem tripulantes. O navio, ainda com uma tripulação convencional, deverá entrar em serviço em 2018 e, em 2020, o “Yara Birkeland” deverá navegar sem nenhuma alma à bordo. Será o início de uma revolução em uma das mais tradicionais e conservadoras atividades humanas: a Marinha Mercante. Seus idealizadores esperam, com isto, fazer a navegação mundial mais segura, rápida e limpa. Será?

Visão artística do "Yara Birkeland"
A racionalização comercial atrás da ideia de navios autônomos é bem clara. A Guarda Costeira dos EUA estima que 96% dos desastres marítimos tem erros humanos como sua principal razão. Recentemente o recrudescimento da pirataria mostrou que as tripulações são alvos vulneráveis aos criminosos internacionais. E a crônica falta de oficiais e capitães na Marinha Mercante mundial reforço o fato de que as pessoas não estão dispostas a viver as agruras dos homens do mar.

A infraestrutura instalada nos navios para acomodar seus tripulantes – os camarotes, ar-condicionado, cozinha, áreas de lazer e a ponte de comando – tomam uma parte considerável na construção dos navios e tem um peso que poderia ser usado mais lucrativamente, carregando frete pago.

O sonho de muitos armadores tem sido, há muitas décadas, eliminar as tripulações e o custo a elas relacionado. Segundo a Rolls-Royce Holdings Plc, um projeto virtual de um navio sem tripulação demonstrou que ele seria 5% mais leve e queimaria 15% menos combustível, se comparado com o mesmo navio tripulado.

O navio autônomo na concepção da Rolls-Royce
Há muita contradição, no entanto.  As tripulações tem diminuído em tamanho desde a década de 1960, quando começaram a ser introduzidos nos navios equipamentos automáticos e sem necessidade de supervisão humana constante. O número de acidentes diminuíram? Não necessariamente. Tanto assim que agência das Nações Unidas para a Marinha Mercante, a IMO (Organização Marítima Internacional) proíbe operação de navio sem tripulação.

Oficias na ponte de comando de um moderno navio de carga.
Ponte de comando ou passadiço de um navio cargueiro moderno.


Na década de 1960, um navio petroleiro com capacidade de transportar 53.000 toneladas de óleo bruto tinha uma tripulação de 48 pessoas. Hoje, um navio brasileiro da classe Suezmax construído em 2015 e que transporta cerca de 150.000 toneladas de petróleo tem 24 tripulantes, em média. A redução foi possível com a automatização de vários equipamentos e sistemas à bordo.

N/T "Dragão do Mar", um navio da classe Suezmax, da Petrobrás.
Mas serão, efetivamente autônomos, estes navios do “futuro”? Claro que não. Seus tripulantes, na verdade, estarão confortavelmente instalados nas salas de controle, em terra, operando os navios através de “joy-sticks”, como num imenso jogo digital.

Haverá benefícios para os armadores? Imagina-se que sim. Sem tripulantes embarcados o custo dos navios será menor e os lucros maiores. 

Haverá benefícios para a humanidade? Tenho minhas dúvidas.

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