sexta-feira, 31 de março de 2017

Fraude na gasolina: mais detalhes da Operação Pane Seca no Paraná


Os postos investigados na operação Pane Seca – que participavam do esquema que fraudava bombas de combustível em Curitiba – utilizavam alta tecnologia para fraudar o sistema e enganar o consumidor. De acordo com o que foi apurado pela Polícia Civil, eles utilizavam até mesmo um controle remoto que permitia desligar a adulteração caso notassem a presença de um fiscal. A informação foi revelada durante uma entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (30), em que a polícia detalhou como a ação era organizada.

Segundoa Delegacia de Crimes Contra a Economia e Proteção ao Consumidor (Delcon) a tecnologia empregada era bastante complexa e provavelmente foi importada para o Paraná de outros estados. “Eles usavam um microchip nas placas das bombas que permitia ligar e desligar a adulteração a partir de um pequeno controle remoto, igual àqueles que se usa em carros”, explica o delegado. “Esse controle ficava com o frentista ou o gerente do posto, longe da vista de qualquer pessoa. Era assim que eles ludibriavam os órgãos responsáveis”. O dispositivo também podia ser acionado por celulares.

De acordo com a Polícia Civil, as bombas adulteradas entregavam até 6% a menos combustível do que era exibido no painel — o consumidor pagava por isso. Assim, um carro popular com tanque de 50 litros, quando cheio, recebia apenas 47 litros. Ao preço de R$ 3,30, por exemplo, isso equivalia a um prejuízo de R$ 10 por pessoa.

Em um ano, caso a pessoa abastecesse sempre no mesmo local duas vezes por mês e ao mesmo preço, ela teria “perdido” 72 litros de gasolina, o suficiente para encher um tanque e meio ao custo de R$ 240.

Com a ajuda desse sistema, os postos conseguiam burlar o leitor das bombas e entregar até mesmo 6% menos combustível do que era, de fato, vendido. “Se uma pessoa abastecia 100 litros, recebia apenas 94”, exemplifica o delegado. Segundo ele, ao longo da semana, esse “excedente” fraudado era transferido para outros postos participantes do esquema.

A partir de um único clique, os envolvidos na Pane Seca conseguiam lucrar milhões, como aponta o secretário de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita. “Era [um grupo] organizado e com uma enorme margem de lucro”, diz. Tanto que, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão realizado na última quarta-feira, em Maringá, os policiais civis encontraram um total de R$ 154 mil guardados dentro de um balde e mais de R$ 2 milhões em cheques em uma residência. Além disso, um caderno com a contabilidade do grupo também foi encontrado durante as investigações. As informações contidas nele ainda estão sendo analisadas.

Diante das descobertas, Mesquita não descarta a possibilidade de que a tecnologia empregada nos estabelecimentos fechados pela polícia pudesse estar sendo levada para o restante do Brasil. “A investigação já mostrou que a quadrilha estava espalhando know-how dessa tecnologia e fazendo conexões em outros estados, como Santa Catarina e São Paulo”, assinala. Percebendo o grau de lucro que vem dessa fraude, com certeza ela está presente em outros estados e nós vamos repassar o que descobrimos para as polícias de outros estados”.

O delegado Guilherme Rangel disse também que um dos objetivos é chegar até quem vem fornecendo esse material.

Além de burlarem a leitura das bombas com um chip, os postos envolvidos também faziam aquilo que o delegado do Delcon descreve como “fraude clássica”, ou seja, a venda de gasolina adulterada com índices maiores de álcool e água em sua composição. “Em alguns casos analisados, chegou ao absurdo de 69% da mistura ser de água e álcool. Era apenas 31% de gasolina, uma aberração”, descreve Rangel. De acordo com o que é regulado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o combustível não deve ter menos do que 75% de gasolina.

O Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniências do Estado do Paraná (Sindicombustíveis-PR) afirmou que apoia o combate às fraudes no setor e as ações da Operação Pane Seca. Em nota, o sindicato destacou que as irregularidades apontadas pela polícia lesam o consumidor e geram concorrência desleal com a grande maioria dos empresários que trabalha dentro da lei.


Ainda em nota, o Sindicombustíveis-PR destacou que espera que a Operação Pane Seca seja estendida para todo o estado. “O Sindicombustíveis-PR não tem o papel legal de realizar qualquer tipo de fiscalização, cabe à entidade cobrar junto aos agentes públicos responsáveis uma atuação com maior atenção para o problema”, afirma a entidade.

Fonte: Gazeta do Povo, Curitiba

Veja a postagem anterior aqui.

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