sábado, 21 de fevereiro de 2015

Falta de respeito e ignorância



Eu estava num jantar na casa de um casal amigo, outro dia, quando um dos convidados, também meu conhecido, começou a fazer comentários desrespeitosos sobre minha profissão.

Não vou mencionar os comentários, por serem de nível bem chulo. E nem é o caso desta postagem.

O que me chamou a atenção foi a maneira supérflua e inconsequente com que certas pessoas encaram o trabalho de outras pessoas e, dentro da sua ignorância, menosprezam o que fazem.

É uma questão de berço, eu sei. Meus pais me ensinaram a respeitar todas as pessoas, qualquer que seja sua profissão, nível social, cultural ou profissional.

Eu sempre levei isto muito a sério e transmiti estes conceitos para o meu filho. Tenho certeza que ele está fazendo o mesmo com meus netos.

Na Marinha somos ensinados a valorizar cada um dos tripulantes do navio. Como Oficiais somos treinados para entender que nenhum homem ou mulher, sózinho,  consegue fazer um navio navegar e cumprir sua missão. Cada um dos membros da tripulação, desde o marinheiro mais novato ao Comandante mais tarimbado, todos somos pessoas fundamentais para que esta pequena sociedade organizada possa atuar de maneira efetiva.

Um dos comentários deste conhecido atingia diretamente a moral dos marinheiros, o que me causou um profundo desgosto. Em respeito ao casal de amigos, nosso anfitrião, não respondi à altura que os comentários mereciam. Fiz com que o assunto morresse, deixei passar alguns minutos e retirei-me do local, juntamente com minha esposa.

Mas, perguntarão, qual a moral desta história?

Acho que a atitude desrespeitosa desta pessoa reflete bem a personalidade e o comportamento de uma parcela da nossa sociedade.

Quando vemos nos noticiários que professores são atacados por alunos, muitas vezes com a omissão consciente dos pais, isto nos mostra que a sociedade não respeita as pessoas e suas profissões.

É mais fácil ver pessoas de bom nível social bajulando políticos do que reconhecendo o trabalho árduo que fazem os policiais das nossas cidades.

Muitas pessoas tem uma atitude de subserviência a políticos e outros servidores públicos e tratam pessoas que prestam serviços relevantes ao país com desrespeito e pouca consideração.

Não me senti atingido pelos comentários deste conhecido. Atribuo-os à ignorância, mais do que nada.

A mesma ignorância que leva o maior mandatário do país a lutar pelo perdão a um traficante de drogas e ignorar as mortes de dezenas de policiais, abatidos todos os anos pelo mesmo tráfico, nas cidades brasileiras.

Dediquei 22 anos da minha vida ao serviço da minha pátria, deixando meus entes queridos à distância para fazer meu trabalho e contribuir com o desenvolvimento do Brasil. Enquanto pessoas como ele se divertiam rodando em carros ou motocicletas, perigosamente pelas estradas do país, eu e milhares de profissionais do mar enfrentávamos muitos perigos para garantir que o petróleo, que produziria a gasolina que usavam, não faltasse nas nossas refinarias. Apesar do calor, do frio intenso, dos temporais em alto mar, da solidão profunda que é a vida à bordo de um navio.

Este sacrifício que fiz, não foi para este conhecido que talvez não tenha feito por merecê-lo. Mas fiz, com muita dedicação e seriedade, pelo bem do Brasil que eu conhecí e que merecia este e outros sacrifícios ainda maiores.

Neste mês, completam 51 anos que ingressei na Marinha do Brasil. Sinto muito orgulho disto. 

Apesar dos comentários que ouvi, naquela noite.

2 comentários:

  1. Infelizmente no Brasil, só quem serviu sabe o que é a vida em um navio. Não servi, mas venho de uma família com muitos militares, e é triste ver como esse assunto é tratado por aqui pelos leigos, e como ele foi distorcido pela mídia por décadas.

    Não sei como foi a conversa, mas acho que você foi extremamente cortês em uma situação onde muitos teriam perdido a cabeça. Não se deixe afetar.

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